segunda-feira, 3 de abril de 2017

SÓTÃO DA MEMÓRIA



continuação

Outros dias de festa

Outros dias festivos eram nas férias da escola, os passados na Colónia (porque tive o privilegio de num ano, o sindicato a que pertencia o meu pai ter essa regalia). A Colónia era junto aos Socorros a Náufragos no Castelo da Foz, lá andávamos de babeiros às riscas e panamá, brincando no areal da praia dos Ingleses com baldes, pás e ancinhos de chapa. Os jogos de praia eram nesse tempo, as construções na areia, o “Prego”, o “Anel” e o “Tesouro dos Piratas”.
Festa? Eram os dias de aniversário, principalmente os meus inesquecíveis seis anos, quando o meu pai me levou pela primeira vez ao cinema, ver o “Marcelino Pão e Vinho” no Coliseu com Pablito Calvo. Depois fomos ao café Palladium (onde quase trilhava os dedos nas portas giratórias que nunca tinha visto), para comer uma torrada e um copo de leite. Mas o melhor desse dia, foi ao jantar, a minha avó deu-me bife com batatas fritas e um ovo estrelado. Foi um dia memorável.
No fundo, todos os dias eram de festa nas brincadeiras de rua com os meninos como eu: Jogando a bola de trapos, a casquinha, o hóquei com troços de couve, o peão, a sameira, á corda queimada, ás escondidas, aos Cow-boys, à Cabra cega e aos policias e ladrões.
Quem do meu tempo, não se lembra daquela célebre lenga-lenga:

Aniki bó-bó /  Aniki baú-bau / Passarinho totó
Cheribau, Cavaquinho / Salomão, São cristão
Policia / Ladrão

Também brincávamos com as meninas às “Casinhas”, às rodinhas cantando o Manel Tim-Tim que era assim:

Ó Manel tim-tim /  Ó Manel tim-tão
Dá-me a canastrinha / Dá co’cu no chããão

Ou a Machadinha que era assim:
        
Ah ah ah minha machadinha
Quem te pôs a mão sabendo que és minha
Sabendo que és minha também eu sou tua
Salta machadinha p’ró meio da rua

Com as “catraias”, também fazíamos jogos como: Farinha olé, Prendinhas do Sr. Abade, Minha mãe dá-me licença? Reis e as Rainhas ou ao Bom Barqueiro. Esta brincadeira consistia em dois de nós de braços levantados e dando as mãos, formar um arco por onde os outros passavam em fila atrelados às ancas a cantar:
        
Bom barqueiro, bom barqueiro / Deixa-me passar
Tenho filhos pequeninos / Não os posso criar

A que os dois barqueiros respondiam:

Passarás, passarás /Mas algum ficará
Se não for o da frente / Há-de ser o de trás

E fechando o arco, aprisionavam o último da fila que se posicionava atrás de um dos barqueiros. Assim sucessivamente até que no final, cada barqueiro com a sua equipa puxavam com força, agarrados às ancas uns dos outros, até conseguirem separar o arco original.

continua



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