continuação
Vi desaparecer ao longo do tempo, muitos
locais da minha infância, onde joguei à bola, como a Quinta Amarela nas Antas.
Onde vi o circo como o Campo do Luso. Onde vi ciclismo como o Estádio do Lima.
Salas onde mais tarde vi cinema, como o Central Cine da Carcereira, o Odeon em Pinto Bessa, o Vitória
na Circunvalação, o Cine Foz junto ao castelo e ainda, o Águia D’ouro, Olímpia,
Vale Formoso, Trindade, Carlos Alberto, Terço, Júlio Dinis e muitos outros.
Cafés que foram pontos de encontro na baixa
portuense, autênticas tertúlias de amigos em tempo de liberdade proibida, como
o Palladium onde se jogava ténis de mesa, bilhar, damas e até tinha barbearia.
O Astória, sala de visitas para quem chegava ao Porto pela estação de S. Bento.
O monumental café Imperial que é hoje a MacDonal’s (mudança directamente
relacionada, com a perda de influência do Porto enquanto centro de negócios, se
até bancos, companhias de seguros e outras instituições foram deslocadas para
Lisboa!) O Rialto frequentado por Egito Gonçalves, Papiniano Carlos, Daniel
Filipe, Rebordão Navarro. Na mesma Praça de D. João I, havia o Odin que veio
para S. Brás e era o café dos salgueiristas, muitos, muitos cafés que faziam
parte do património cultural desta cidade.
Cafés que também tinham engraxadores (que ás
vezes eram bufas) e tabacarias onde não se vendiam isqueiros a quem não tivesse
licença. Era um Porto amordaçado, mas que a nossa imaginação não deixava
morrer, como no café Cidade Nova em Costa Cabral, onde alguns amigos se juntavam
depois de todos lerem o último livro da colecção “Vampiro” (sem as últimas 5
folhas), para adivinharem por dedução, o final do livro policial.
Também existiu esplanada da “CUFP” que
acabou (quando a fábrica da cerveja mudou para a Maia e é agora a UNICER), era ali
junto à Praça da Galiza, onde se bebiam aquelas canecas gigantes de cerveja (as
Girafas) e era muito frequentada pela malta que estudava como eu à noite, na
escola industrial Infante D. Henrique.
Para os “Pregos em pão”, a malta tinha o
café Pereira no Marquês. Para as Francesinhas, além da Regaleira (casa onde
nasceram na década de 60 no Bonjardim), havia o Mucaba em Gaia e o café
Portugal em Costa Cabral,
que já não existem.
O Porto sempre foi especial na sua
gastronomia, não se pode esquecer que foi nesta cidade que nasceram também o
Bacalhau à Gomes Sá, criado pelo portuense José Luís Gomes de Sá Júnior
falecido em 1926.
E claro, temos as afamadas
Tripas à Moda do Porto de onde herdamos o nome de “Tripeiros” desde que demos
ao Infante todas as carcaças das reses para a campanha de Ceuta e só ficamos
com as tripas para comer.
Mas voltando aos cafés antigos, mesmo os
cafés que ainda resistem, como o Aviz, o Ceuta, o Progresso, o Estrela, ou
ainda o Guarany, o Majestic e a (remodelados) A Brasileira que se foi… Ainda o
Piolho, o Embaixador e outros, sentem imensas dificuldades, pois já pouca gente
mora na cidade e ao fim da tarde, quando encerram todos os estabelecimentos, o
Porto fica um deserto. Salva-se a “Movida” aos fins-de-semana.
Longe vai o tempo em que o Sérgio Godinho
(que também nasceu no Porto) cantava: Ai,
eu estive quase morto no deserto / E o Porto aqui tão perto...
continua
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