segunda-feira, 19 de junho de 2017

SÓTÃO DA MEMÓRIA




continuação
   
     
Nessas excursões, havia sempre alguém que se atrasava na partida. Homens que se embebedavam e ficavam a dormir na camioneta com nódoas de vinho na camisa. Crianças com ranho no nariz e os joelhos sujos, que perdiam o boné com o vento quando punham a cabeça de fora da janela e logo se ouvia: «Rais parta o catraio! Já bais bober!
Muitos homens no dia seguinte, pediam à mulher para telefonar ao patrão, que estavam indispostos e não iam trabalhar. É certo que a maioria não ia para conhecer, nem se dava ao trabalho disso, o importante era conviver e passar um bom dia que se resumia a cantar e saber se o vinho da região era bom. Até as fotos que tiravam, não eram a monumentos ou lugares de interesse, limitavam-se a encostarem-se à camioneta em grupo e depois não sabiam dizer onde foi tirada a foto.
Muitos dos passeios que fui mais tarde, eram aqueles pelo rio acima em Batelões, que partiam das escadas da Padeira na Ribeira e eram puxados por barcos a motor até Ribeira d’Abade, aí, desembarcava-se com o farnel para o almoço, arranjava-se um bom lugar para colocar a manta e toca a sentar à fresca. Havia sempre um conjunto de música que abrilhantava a tarde com bailarico, enquanto outros tomavam banho no rio.
Toda esta forma de passeios e excursões, eram uma verdadeira festa e um modo de esquecer por um dia as agruras da vida. Num tempo de vacas magras, também a FNAT, hoje INATEL, organizava excursões para os sócios trabalhadores.
Outros passeios maravilhosos que organizavam lá na rua eram os passeios mistério. Estes passeios eram feitos só por uma pessoa que recebia uma pequena importância de cada participante que nunca sabia para onde ia. Era marcada uma hora e local para a abertura do primeiro envelope que estavam numerados, onde se lia qual o destino, por exemplo:
“Apanhem o eléctrico número 7 até S. Mamede”. Depois era só cumprir sucessivamente todos os destinos, desde o local do café, do almoço, visita a locais históricos da cidade, passagem em lugares desconhecidos, etc. Eram rondas salutares de sabedoria, de prazer e convívio entre amigos, autênticas aulas de história onde a expectativa e a surpresa vivida criavam um dia fora do vulgar.  

continua



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