continuação
Nessas excursões, havia sempre alguém que se
atrasava na partida. Homens que se embebedavam e ficavam a dormir na camioneta
com nódoas de vinho na camisa. Crianças com ranho no nariz e os joelhos sujos,
que perdiam o boné com o vento quando punham a cabeça de fora da janela e logo
se ouvia: «Rais parta o catraio! Já bais bober!
Muitos homens no dia seguinte,
pediam à mulher para telefonar ao patrão, que estavam indispostos e não iam
trabalhar. É certo que a maioria não ia para conhecer, nem se dava ao trabalho
disso, o importante era conviver e passar um bom dia que se resumia a cantar e
saber se o vinho da região era bom. Até as fotos que tiravam, não eram a
monumentos ou lugares de interesse, limitavam-se a encostarem-se à camioneta em
grupo e depois não sabiam dizer onde foi tirada a foto.
Muitos dos passeios que fui mais
tarde, eram aqueles pelo rio acima em Batelões, que partiam das escadas da
Padeira na Ribeira e eram puxados por barcos a motor até Ribeira d’Abade, aí,
desembarcava-se com o farnel para o almoço, arranjava-se um bom lugar para
colocar a manta e toca a sentar à fresca. Havia sempre um conjunto de música
que abrilhantava a tarde com bailarico, enquanto outros tomavam banho no rio.
Toda esta forma de passeios e
excursões, eram uma verdadeira festa e um modo de esquecer por um dia as
agruras da vida. Num tempo de vacas magras, também a FNAT, hoje INATEL,
organizava excursões para os sócios trabalhadores.
Outros passeios maravilhosos que
organizavam lá na rua eram os passeios mistério. Estes passeios eram feitos só
por uma pessoa que recebia uma pequena importância de cada participante que
nunca sabia para onde ia. Era marcada uma hora e local para a abertura do
primeiro envelope que estavam numerados, onde se lia qual o destino, por
exemplo:
“Apanhem o eléctrico número 7 até
S. Mamede”. Depois era só cumprir sucessivamente todos os destinos, desde o
local do café, do almoço, visita a locais históricos da cidade, passagem em
lugares desconhecidos, etc. Eram rondas salutares de sabedoria, de prazer e
convívio entre amigos, autênticas aulas de história onde a expectativa e a
surpresa vivida criavam um dia fora do vulgar.
continua
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