continuação
Neste lugar limítrofe do Porto, tal como o
Ameal, Monte dos Burgos, Rio Tinto e outros, vivia muita maralha que era da
cidade. Foi aí, através do contacto com essa gente, que tomei conhecimento dum
modo curioso de falar em
calão. Tão peculiar era o seu linguajar que só uma pessoa do
mesmo lugar era capaz de compreender frases completas numa conversação, por
exemplo, como neste diálogo:
— Ó Zé vamos de frosque, comer uma
chavala num tapirete e um escochebi nas mamas?
— Néria... Vou dar uns chochos e tirar
uns nabos com a garina se não, fico na prancha.
— E amanhã de matina, vais ao praiedo?
— Não manjo o praiedo.
Agora a tradução:
«Ó Zé vamos embora, comer uma sardinha
num pão e um copo de vinho nas Mamas Gordas (Casa conhecida na zona pelas suas
iscas).
— Não... Vou dar uns beijos e uns mimos
à minha namorada se não ela põe-me de lado.
— E amanhã de manhã, vais à praia?
— Não gosto de praia».
O Sr. Pereira, distinto empregado do café Cabinda, é que nos aturava
conseguia compreender e traduzir todo o calão. Grandes noites de sábado que
passamos naquele café com a nossa tertúlia a ver o “Fugitivo” na TV e comer as
célebres “Trincas” (bife com molho inglês e fiambre em pão fresco) que faziam
frente aos pregos do Café Pereira no Marquês.
Haviam naquela época, quatro cafés na
Areosa, o Cabinda, que tinha um recanto com sofás e uma vitrina com um ramo
seco e pássaro. O Luar que ficava na esquina, num prédio igual aos muitos que
haviam nos cruzamentos da Circunvalação e que tempos idos, serviram de postos
aduaneiros para quem entrava na cidade. O Comendador que era o mais moderno e
mais tarde foi a sapataria com o mesmo nome. E por último o S. João que era de
uma sociedades de amigos, onde um deles era o Henrique alfaiate, pai do
Agostinho que esteve comigo na guerra em Angola.
No café Luar, era onde o Quim “manquinho”
trazia o Avante para a malta ler ás escondidas. Íamos à vez à casa de banho
para ler e deixar o jornal dobrado e escondido debaixo da sanita. O Ferrão, que
pertencia ao “Feliz Ferrão” (casa de lotarias na rua Fernandes Tomás) e mais
tarde foi meu furriel no R10 em Aveiro, era um acérrimo leitor deste jornal do
PC e um grande antifascista.
continua
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