continuação
Festa da
Sr.ª. da Lapa
Fui um “ganapo” feliz apesar de tudo e tenho
saudade da minha rua, da minha cidade, das coisas simples como os dias festivos
que durante o ano aconteciam. Romarias como a da Sr.ª. da Lapa, que ainda
hoje ocorre sempre no 1º domingo de Maio. No meu tempo de menino, a festa da
Lapa tinhas as suas barraquinhas da broa de Avintes, cavacas de Paranhos,
caladinhos da Areosa e biscoitos de Valongo.
Haviam sempre muitas tendas de brinquedos
pintados de anilina, como os ciclistas em roda de madeira, que ao andar tocavam
uma campainha, as raquetes onde duas galinhas depenicavam movidas pelos pesos
que faziam de pêndulos, as espingardas de madeira que disparava um pau movido
por uma mola e muitos modelos de carrinhos para as meninas levarem as bonecas
de pano. Ainda haviam os brinquedos de folheta, camionetas, motas, cornetas,
carros dos bombeiros fogões e máquinas de costura. Brinquedos característicos
da zona de Ermesinde, fabricados com o aproveitamento das latas (folha de flandres),
de conserva e outras.
Havia todos os anos duas cestas de madeira,
que balouçavam encostadas às traseiras do Quartel-general no largo da Lapa.
Também nunca faltava junto á fonte de Salgueiros, as barraquinhas de comes e
bebes com mesas improvisadas e bancos corridos de madeira, que vendiam iscas,
chouriço, vinho e pirolitos (limonada com uma bola de vidro).
Por entre as árvores da rua do Paraíso,
havia o homem com banca de dados e três copos de madeira para jogar à sorte,
sempre pronto a fugir á polícia. Lá estava o “propagandista” que juntavam muita
gente á sua volta, para ver a menina que fazia contorcionismo segurando na
testa copos de groselha. Tudo para vender a “Pomada santa de jibóia” que curava
todos os males. Outro circense que não faltava, era o homem que deitava fogo
pela boca enquanto as pessoas atiravam moedas.
Quem nunca faltava nas festas era o tiro ao
alvo, em terreno delimitado por uma corda presa ao chão por quatro escápulas de
ferro e as espingardas de pressão, que apenas disparavam umas setinhas
coloridas para um alvo pendurado numa árvore. O prémio máximo era sempre um
galo que nunca premiava ninguém e que permanecia atado ao chão, indiferente ao
seu destino.
continua
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