terça-feira, 24 de janeiro de 2017

SÓTÃO DA MEMÓRIA


continuação



Festa da Sr.ª. da Lapa





Fui um “ganapo” feliz apesar de tudo e tenho saudade da minha rua, da minha cidade, das coisas simples como os dias festivos que durante o ano aconteciam. Romarias como a da Sr.ª. da Lapa, que ainda hoje ocorre sempre no 1º domingo de Maio. No meu tempo de menino, a festa da Lapa tinhas as suas barraquinhas da broa de Avintes, cavacas de Paranhos, caladinhos da Areosa e biscoitos de Valongo.

Haviam sempre muitas tendas de brinquedos pintados de anilina, como os ciclistas em roda de madeira, que ao andar tocavam uma campainha, as raquetes onde duas galinhas depenicavam movidas pelos pesos que faziam de pêndulos, as espingardas de madeira que disparava um pau movido por uma mola e muitos modelos de carrinhos para as meninas levarem as bonecas de pano. Ainda haviam os brinquedos de folheta, camionetas, motas, cornetas, carros dos bombeiros fogões e máquinas de costura. Brinquedos característicos da zona de Ermesinde, fabricados com o aproveitamento das latas (folha de flandres), de conserva e outras.

Havia todos os anos duas cestas de madeira, que balouçavam encostadas às traseiras do Quartel-general no largo da Lapa. Também nunca faltava junto á fonte de Salgueiros, as barraquinhas de comes e bebes com mesas improvisadas e bancos corridos de madeira, que vendiam iscas, chouriço, vinho e pirolitos (limonada com uma bola de vidro).

Por entre as árvores da rua do Paraíso, havia o homem com banca de dados e três copos de madeira para jogar à sorte, sempre pronto a fugir á polícia. Lá estava o “propagandista” que juntavam muita gente á sua volta, para ver a menina que fazia contorcionismo segurando na testa copos de groselha. Tudo para vender a “Pomada santa de jibóia” que curava todos os males. Outro circense que não faltava, era o homem que deitava fogo pela boca enquanto as pessoas atiravam moedas.

Quem nunca faltava nas festas era o tiro ao alvo, em terreno delimitado por uma corda presa ao chão por quatro escápulas de ferro e as espingardas de pressão, que apenas disparavam umas setinhas coloridas para um alvo pendurado numa árvore. O prémio máximo era sempre um galo que nunca premiava ninguém e que permanecia atado ao chão, indiferente ao seu destino.



continua
 



Sem comentários:

Enviar um comentário