continuação
Da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa,
instituída em 1755 pelo Papa Bento XIV, fazem parte além da Igreja e do
Hospital, o colégio da Lapa onde Ramalho Ortigão foi professor de francês e o
pai, Joaquim da Costa Ramalho director.
Também Eça de Queirós foi aluno interno após
a morte da mãe. Aliás, neste lugar da cidade viverem muitos homens de letras, o
próprio Ramalho Ortigão residia na Quinta de Germalde na Lapa, Antero de
Quental ali perto no Campo da Regeneração e até o filosofo Oliveira Martins na
Casa de Pedra na rua das Águas Férreas. O Colégio era um lugar para algumas
elites e por isso, eu nunca o poderia frequentar. Apenas fui crismado na igreja
e lá fiz a comunhão solene.
A minha instrução primária foi feita na Escola
nº 61 em Faria
Guimarães, onde fui aluno do severo professor Quaresma.
Naquele tempo, havia muito respeito pelos professores que eram como nossos
segundos pais. Tudo se levantava quando ele ou alguém entrava na sala. Claro
que na parede por cima do quadro, lá estava os senhores da ditadura, Salazar e
Craveiro Lopes e entre eles o crucifixo. Ao canto da sala, não faltava o
escarrador e o banco alto dos burros.
Não se pode concordar com alguns métodos de
ensino dessa época, no entanto hoje, passou-se de um extremo para outro. Nem
tudo que se aprendia era muito importante, como as linhas do caminho-de-ferro,
mas saber as serras, rios e seus afluentes, a história de Portugal, ciências do
corpo humano e a tabuada, foi fundamental para a malta do meu tempo. Por isso se
diz que a 4ª classe antiga é igual ao 7º ano hoje. Aquela cantoria para
aprender a tabuada era eficaz, assim como a vantagens dos livros passarem de
irmãos para irmãos.
A primeira saca que tive para levar os
cadernos, o livro, a lousa, a pena e caneta de aparo, era de pano e tinha
bordado: “Segue sempre o bom caminho”. Depois tive uma de cartão com uma fita
para pôr ao tiracolo, castanha por fora e a azulada por dentro, a tampa era
ovalada e tinha um fecho cromado. Das coisas que mais gostava, além das aulas
em geral, era daquela sopa e do pão escuro feito na Legião Portuguesa e que
davam lá na escola. O que menos apreciava era o óleo de fígado de bacalhau que
nos obrigavam a tomar, e ainda de aos sábados de manhã, ter que cantar o hino
da mocidade, mas pior ainda, eram as casas de banho que eram de cócoras.
O exame de prova oral e escrita da 4ª classe,
foi feita na escola de Sto. Ildefonso que já não existe (hoje é o edifício da
Junta), na esquina de Gonçalo Cristóvão com o Largo do Bonjardim. Ao lado,
havia a escola Raul Dória que foi demolida para dar lugar ao edifício JN. A
escola em Faria
Guimarães também não existe, no seu lugar está um prédio com
uma confeitaria. Mas tudo isto foi pelos finais dos anos 50, em que me lembro
de ir de bata branca e bandeirinha na mão, com todos os alunos, aplaudir a
Rainha Isabel de Inglaterra à praça da Republica. Estávamos em 1957 e só em
Agosto de 1960 voltei para aplaudir na praça, o Joscelino Kubitschek de
Oliveira presidente do Brasil, um democrata elegante que alegremente agradecia os
aplausos em contrastando com o semblante carregado de Américo Tomás.
continua
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