continuação
Recordo-me bem do Senhor António
guarda-freio na Carris e pai da Aida; O Neca que tinha uma irmã muito linda,
que trabalhava ao balcão na Loja das Coisas em Fernandes Tomás.
Ele cantava canções sul-americanas e formou o trio Boreal com
a Luísa Salgado que era da Fontinha e o Castelo Branco da Vitória. O Zeferino
Pinto que fundou o trio, “Os 3 de Portugal” e moravam em Salgueiros: O Xavier
do Comércio do Porto: O Laguela canalizador: A Loscas costureira que era mãe do
Zequinha e tinha “Torry” no nome, descendente afastada de um braço genealógico
dos “Torry’s” ingleses: O Pirata, electricista que moravam enfrente à ilha do
Cego; A Sãozinha do tasco que era mãe do Filipe: O Júlio e o Alexandre da
mercearia: O Amaral carvoeiro pai da Mariazinha e do Neca; O Zé da barbearia; O
Argentino pai da Alexandra, que escrevia cartas a quem era analfabeto e
preenchia papéis da Junta quando era preciso pedir um atestado de pobre.
Havia a oficina do Manel dos chapéus
defronte à ilha do Miranda, onde morava o Filintro que trabalhava no cinema
Júlio Dinis. Também havia a oficina do meu pai, que fazia casinhas, pontes,
coretos, castelos e igrejas para as cascatas de S. João, caixas de jóias e de
costura, até caixinhas para amêndoas pela Páscoa. No Natal fazia presépios com
telhados de colmo e manjedouras com espigas (esta palha era tirada das
coberturas de garrafas de vinho do Porto que haviam na altura), tudo isto numa
casinha que alugou no bairro “Angelina” que depois vendia para o Bazar dos Três
Vinténs em Cedofeita, para a Casa Ametista nos Poveiros e os presépios, nas
casas de artigos religiosos em Mouzinho da Silveira e na rua das Flores.
Gente desse tempo
Nesse tempo, ouviam-se pregões pelas ruas
das mais diversas coisas, desde guloseimas até aos artigos mais inverosímeis.
Ouvia-se as mulheres que vinham de Rebordosa apregoando: “Merca cadeiras ou
baaaancos...” em madeira de pinho, como os que se vendiam na rua da Picaria. O
Caramileiro que vendia o “Torrão de Alicante” (que ficava preso aos dentes) e
aqueles cumpridos de cor branca com riscas vermelhas e apregoava: “Olha o belo
caramilo americaaano...”. As Vareiras (varinas é em Lisboa), de canastra à
cabeça com um oleado e algibeira atada à cinta que apregoavam: “Sardinha
viviiiiinha”. As galinheiras com seus cestos de rede à cabeça apregoando:
“Merca galinhas ou fraaangos”. As leiteiras, que logo pela manhã andavam de
porta em porta com o “canado” e as medidas de alumínio, com que mediam o o
leite. As lavadeiras, que faziam o rol da roupa que lavavam e traziam lavada e
vinham da Maia com as trouxas nas camionetas da carreira, aquelas que tinham
escadas atrás para subir ao tejadilho e acomodar a bagagem. O azeitoneiro que
trazia um pau ao ombro com uma giga de cada lado cheias de azeitonas e
apregoavam: “Olha a bela azeitoooona”.
continua
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