continuação
Havia ainda o amolador e guarda-soleiro, com
aquela gaita-de-beiços em plástico, a bicicleta que ele transformava em roda
livre para afiar as tesouras e facas no esmeril. Este velocípede era uma
verdadeira oficina ambulante, onde o funileiro com habilidade conseguia tapar
buracos nos tachos e nas panelas de alumínio.
Recordo comovido, uma mulher magra de xaile
preto e um filho pela mão, que trazia uns galhos enormes ainda com rama na
ponta e que apregoava numa voz fraca: “Chaminééés...” Mas que nada tinham a ver
com os homens chamados “Limpa chaminés”, esses, traziam umas cordas ao ombro e
andavam sempre de fato-macaco sujo de fuligem. Também de cordas às costas e
boné com uma placa onde tinha gravado o seu número de profissional, andavam os
“Carrejões” ou carregadores que fazia carretos e fretes, transportando bagagens
e peças de mobiliário. A maior parte desses homens eram galegos e passavam o
dia junto às estações de Campanhã, S. Bento e Trindade, na Praça Filipa de
Lencastre junto às camionetas de Braga, em José Falcão no
Linhares da Póvoa, na garagem Atlântica das camionetas de Espinho, na rua de
Camões nas camionetas de Felgueiras e de Paços de Ferreira, que paravam no
largo das traseiras do “Bonnevile de Oliveira” e outros locais como os
recoveiros espalhados pela cidade. Também com bonés com chapa numerada, andavam
os cauteleiros que vendiam a lotaria pelas ruas e apregoavam a sorte grande
pela baixa onde também andavam homens a vender gravatas num pau pendurado ao
pescoço, que fazia de expositor.
Na Trindade, junto à viela do Bonjardim (aquela
onde tinha um urinol em pedra), havia o homem das canetas numa banca onde
arranjava todo o tipo de aparos para as canetas de tinta permanente. Quase na
esquina da rua Fernandes Tomas, havia um cinzelador numa janela, cinzelando a
prata colada à pedra com breu e que delicadamente com o buril ia gravando
lindos motivos e desenhos. Outros artistas que me fascinavam eram os
marmoristas nas oficinas de Mártires da Liberdade e Avenida Rodrigues de
Freitas. Eram autênticos escultores trabalhando o mármore, de onde saíam anjos
e outras figuras que embelezam muitas sepulturas nos cemitérios e não só.
Haviam os homens da Água e da Electricidade,
que cobravam e contavam (com uma pilha), a luz e a água, embora fossem poucas
as casas que tinham estes “luxos”, a maioria na minha rua, tinha candeeiros e
máquinas de petróleo da “Hipólito” para cozinhar. A água vinha à cabeça em
canecos de madeira do fontanário do largo. Esta água era abastecida pela
câmara, mas na fonte de Salgueiros passavam as águas do Ribeirinho (nascente
dos Montes de Germalde e do Cativo), que enchiam o tanque da “Fonte dos
Ablativos” em Cedofeita enfrente à rua da Torrinha (esta fonte encontra-se
exposta no Jardim dos SMAS em
Nova Sintra) e tinha a dupla função de servir de
abastecimento público, funcionando ainda como reservatório para ser utilizada
em caso de incêndio.
continua
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