continuação
Também haviam homens que vinham da Régua com
os cestos de rebuçados e na Primavera, vinham mulheres de Gaia vender
“Camarinhas” que apanhavam no areal do Senhor da Pedra. Em Maio as vendedeiras
de fruta traziam cereja de Resende, pêssegos do Douro e ameixas vermelhas, bem
melhores das que apanhávamos das árvores do jardim da Praça da Republica. Neste
jardim do “Campo”, assim como no de Arca de Água e do Marquês, o SNI
(Secretariado Nacional de Informação, organismo criado durante o Estado Novo),
organizava durante o verão, sessões de cinema ao ar livre. Sentado na relva nas
noites de calor, vi: “O Cerro dos enforcados”; “Os Saltimbancos”; “Frei Luís de
Sousa”; “Os Três da Vida Airada” e muitos outros filmes portugueses. Também
cheguei a ir com a minha avó, ouvir a “Música do pau teso”, como ela chamava às
bandas que tocavam no coreto do Marquês, enquanto nos bancos do jardim, as
“Sopeiras” e os “Magalas” namoravam.
Mas tudo isto foi no tempo em que se fumavam
Definitivos, Provisórios, Paris, Três Vintes e outros que se vendiam avulso nos
quiosques. Em que haviam jornais a 10 tostões como o J.N., Comércio do Porto, O
Primeiro de Janeiro, Norte Desportivo e o Diário do Norte. Em que haviam
revistas como O Século Ilustrado, Crónica Feminina, Modas e Bordados, Flama,
Plateia e muitas outras que o Estado Novo nos impingia. Nessa altura, os livros
do Vilhena eram proibidos e nem sei como se vendia o Cara Alegre que às vezes
trazia anedotas com desenhos de mulheres que nos deliciavam.
Nesse tempo, os nossos heróis eram O Mandrake,
o Mascarilha, o Davy Crockett, o Buffalo Bill, o Príncipe Valente e outros que
se lia aos quadradinhos no Ciclone, no Condor, no Mosquito, no Falcão, no Cavaleiro
Andante e nas bandas desenhadas dos jornais, como o “Reizinho” do Primeiro de
Janeiro, que eu recortava e colava tira a tira com sabão, para dar cinema numa
caixa de sapatos com uma manivela de arame e cobrava aos outros a entrada na
ilha a dois botões. Sim porque qualquer coisa servia para brincar, com um
simples fio estávamos horas a brincar à cama do gato. Com um caco riscava-se no
passeio um quadrado e diagonais para jogar às pedrinhas ou com regos na terra
se faziam corridas com sameiras (caricas é em Lisboa) que para se tornarem mais
pesadas se punham casca de laranja. As meninas jogavam à macaca ou às cordas,
mas... Sempre ao ar livre, nunca como hoje sentados nos sofás agarrados às
playstations e às Tabletes com vídeo games.
continua
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