continuação
A minha geração inventava os seus brinquedos
de criança, desde a bola de trapos ao carro de rolamentos. A de hoje tem toda a
panóplia de tecnologia, desde jogos de computadores, leitores de mp3, filmes de
vídeo, telemóveis de 4ª, 5ª e 6ª geração, etc., mas não sabem como é bom viver
ao ar livre, andar descalço, correr com o vento na cara.
A lembrança da opressão e das carências do
passado, persegue os pais e avós de hoje, quando a liberdade e a democracia
surgiram de braço dado com insegurança a falta de respeito e a quebra de
princípios fundamentais da família. As crianças de hoje tornaram-se super
protegidas, autênticos bibelot’s, já não se sentam no colo das mães nos
transportes públicos e ocupam lugar deixando as mães em pé. Não vão de saca a
tiracolo para a escola com os livros e a ardósia, hoje são os pais que carregam
a mochila.
Os meninos agora não fazem arranhões que se
curavam com uma folha de couve e azeite, não trazem os joelhos sujos de terra,
nem põem papas de linhaça ou papel mata-borrão nas pisaduras, nem sequer comem
sopas de vinho com ovos e açúcar para a anemia ou óleo de fígado de bacalhau
para o raquitismo. Agora quando fazem dói-dói, têm pomadas, anti inflamatórias,
antibióticos, vitaminas e outros fármacos. Os bebés não andam ao colo das mães,
hoje há carrinhos, alcofas, sacos de lona com presilhas e cadeirinhas diversas.
As mamãs preferem dar leite em pó e outros
produtos substitutos aos bebés, umas porque não têm tempo de dar de mamar aos
filhos, outras porque têm medo de deformar a estética dos seios. Mas as
crianças são mais felizes?
Ainda bem que juventude de hoje não enfrenta
o medo cruel da guerra aos vinte anos, nem o desconforto de viver no
obscurantismo dum pais decrépito e analfabeto. Mas, sabem enfrentar o dia de
amanhã? Ou tornaram-se nuns meninos mimados e arrogantes, a quem tudo aparece
feito sem qualquer esforço e às vezes com tanto exagero, que os faz procurar
para a vida respostas em atitudes cobardes como a droga?
Na minha geração três pessoas a conversar no
passeio, era considerado um ajuntamento e logo o polícia dizia: “Toca a
circular, toca a circular”. Claro que também era proibido beijar na via
pública, mas o amor é melhor hoje? Ama-se mais que antigamente?
Sei muito bem que as preocupações hoje são
diferentes, não acredito no estigma da geração rasca. A geração de hoje tem o
que lhe dão, a falta de esperança, o desemprego, a insegurança, ainda a
angústia de viver com o crédito da habitação a altos juros, a inflação no topo
e o medo de constituir família, ter filhos e viver.
continua
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