segunda-feira, 8 de maio de 2017

SÓTÃO DA MEMÓRIA




continuação



A minha geração inventava os seus brinquedos de criança, desde a bola de trapos ao carro de rolamentos. A de hoje tem toda a panóplia de tecnologia, desde jogos de computadores, leitores de mp3, filmes de vídeo, telemóveis de 4ª, 5ª e 6ª geração, etc., mas não sabem como é bom viver ao ar livre, andar descalço, correr com o vento na cara.

A lembrança da opressão e das carências do passado, persegue os pais e avós de hoje, quando a liberdade e a democracia surgiram de braço dado com insegurança a falta de respeito e a quebra de princípios fundamentais da família. As crianças de hoje tornaram-se super protegidas, autênticos bibelot’s, já não se sentam no colo das mães nos transportes públicos e ocupam lugar deixando as mães em pé. Não vão de saca a tiracolo para a escola com os livros e a ardósia, hoje são os pais que carregam a mochila.

Os meninos agora não fazem arranhões que se curavam com uma folha de couve e azeite, não trazem os joelhos sujos de terra, nem põem papas de linhaça ou papel mata-borrão nas pisaduras, nem sequer comem sopas de vinho com ovos e açúcar para a anemia ou óleo de fígado de bacalhau para o raquitismo. Agora quando fazem dói-dói, têm pomadas, anti inflamatórias, antibióticos, vitaminas e outros fármacos. Os bebés não andam ao colo das mães, hoje há carrinhos, alcofas, sacos de lona com presilhas e cadeirinhas diversas.

As mamãs preferem dar leite em pó e outros produtos substitutos aos bebés, umas porque não têm tempo de dar de mamar aos filhos, outras porque têm medo de deformar a estética dos seios. Mas as crianças são mais felizes?

Ainda bem que juventude de hoje não enfrenta o medo cruel da guerra aos vinte anos, nem o desconforto de viver no obscurantismo dum pais decrépito e analfabeto. Mas, sabem enfrentar o dia de amanhã? Ou tornaram-se nuns meninos mimados e arrogantes, a quem tudo aparece feito sem qualquer esforço e às vezes com tanto exagero, que os faz procurar para a vida respostas em atitudes cobardes como a droga?

Na minha geração três pessoas a conversar no passeio, era considerado um ajuntamento e logo o polícia dizia: “Toca a circular, toca a circular”. Claro que também era proibido beijar na via pública, mas o amor é melhor hoje? Ama-se mais que antigamente?

Sei muito bem que as preocupações hoje são diferentes, não acredito no estigma da geração rasca. A geração de hoje tem o que lhe dão, a falta de esperança, o desemprego, a insegurança, ainda a angústia de viver com o crédito da habitação a altos juros, a inflação no topo e o medo de constituir família, ter filhos e viver.





continua
 


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