segunda-feira, 22 de maio de 2017

SÓTÃO DA MEMÓRIA




continuação

mmmigos de tantos anosseu habitatO Meu Natal

Hoje o Natal modernizou-se, perdeu-se um pouco da magia desse dia. Embora sinta a felicidade de ter a mesa cheia com filhos, netos e bisnetos, penso muitas vezes no meu Natal de criança, onde nunca tive a presença de minha mãe, peça fundamental no “meu presépio”, o que me levou mais tarde a escrever:

Ó minha mãe, minha santa / Se pudesses cá voltar
Tinha tanta coisa, tanta / Minha mãe p’ra te contar
Dos filhos tenho meiguices / P’ra compensar teus afectos
Ó minha mãe se tu visses... / Que lindos são os teus netos
Da vida mãe, a pior / São estas saudades de ti
Meu Natal era bem melhor / Se tu estivesses aqui
       
Meu pai, minha avó e meu irmão, eram a minha família numa casa pequenina da rua da Glória. Meu Natal era simples, mas tinha um sabor doce e alegre, mesmo limitado por carências de toda a espécie. Mas isso, só mais tarde pude entender.
Logo no dia da mãe, no feriado de oito de Dezembro, meu pai fazia a árvore de Natal. O pinheiro era plantado em areia num vaso forrado a papel colorido. Eu e meu irmão ajudávamos, pendurando os enfeites que ficavam de uns anos para outros, pingentes, sinos e bolas de vidro coloridas, estrelinhas douradas e pequenos chocolates embrulhados em prata de cor com lacinhos de fitas douradas. Havia ainda anjos recortados em cartão e presos com linha, por fim, era colocado o terminal no carrapito do pinheiro. Passava-se depois à colocação de pequenas velas de cera, metidas em molas de chapa e presas ao pinheiro em locais precisos. Guardavam-se duas para a entrada do presépio. A árvore estava quase pronta, faltavam os fios prateados, os meridianos em volta do nosso mundo. Por fim, a neve que vinha comprimida num pacotinho de celofane, era aberta com cuidado e espalhada por todo o pinheiro como algodão finíssimo. Como era bonita a auréola de luz, que a chama das velas deixava por entre a neve artificial. Depois havia o presépio que meu pai construía com galhos, palha para o telhado, musgo e areia para o chão. Eram então colocadas cuidadosamente nos lugares, as figuras de barro que se comprava na rua d’Assunção. O burro, a vaca e os três reis magos, S. José e Maria, o pastor e o anjo da anunciação. O menino Jesus como só nascia na noite de 24 para 25, era guardado para essa hora. As velas eram acesas só nessa noite e ficavam a arder durante a toda a consoada.

continua
 


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