continuação
O Meu Natal
Hoje o Natal modernizou-se, perdeu-se um
pouco da magia desse dia. Embora sinta a felicidade de ter a mesa cheia com
filhos, netos e bisnetos, penso muitas vezes no meu Natal de criança, onde
nunca tive a presença de minha mãe, peça fundamental no “meu presépio”, o que
me levou mais tarde a escrever:
Ó minha mãe, minha santa / Se pudesses cá
voltar
Tinha tanta coisa, tanta / Minha mãe p’ra te
contar
Dos filhos tenho meiguices / P’ra compensar
teus afectos
Ó minha mãe se tu visses... / Que lindos são
os teus netos
Da vida mãe, a pior / São estas saudades de
ti
Meu Natal era bem melhor / Se tu estivesses
aqui
Meu pai, minha avó e meu irmão, eram a minha
família numa casa pequenina da rua da Glória. Meu Natal era simples, mas tinha
um sabor doce e alegre, mesmo limitado por carências de toda a espécie. Mas
isso, só mais tarde pude entender.
Logo no dia da mãe, no feriado de oito de
Dezembro, meu pai fazia a árvore de Natal. O pinheiro era plantado em areia num
vaso forrado a papel colorido. Eu e meu irmão ajudávamos, pendurando os
enfeites que ficavam de uns anos para outros, pingentes, sinos e bolas de vidro
coloridas, estrelinhas douradas e pequenos chocolates embrulhados em prata de
cor com lacinhos de fitas douradas. Havia ainda anjos recortados em cartão e
presos com linha, por fim, era colocado o terminal no carrapito do pinheiro.
Passava-se depois à colocação de pequenas velas de cera, metidas em molas de
chapa e presas ao pinheiro em locais precisos. Guardavam-se duas para a entrada
do presépio. A árvore estava quase pronta, faltavam os fios prateados, os
meridianos em volta do nosso mundo. Por fim, a neve que vinha comprimida num
pacotinho de celofane, era aberta com cuidado e espalhada por todo o pinheiro
como algodão finíssimo. Como era bonita a auréola de luz, que a chama das velas
deixava por entre a neve artificial. Depois havia o presépio que meu pai
construía com galhos, palha para o telhado, musgo e areia para o chão. Eram
então colocadas cuidadosamente nos lugares, as figuras de barro que se comprava
na rua d’Assunção. O burro, a vaca e os três reis magos, S. José e Maria, o
pastor e o anjo da anunciação. O menino Jesus como só nascia na noite de 24
para 25, era guardado para essa hora. As velas eram acesas só nessa noite e
ficavam a arder durante a toda a consoada.
continua
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