continuação
A
noite tinha sido uma alegria, até o cansaço chegar. Nós, os mais espigadotes,
tínhamos dado uma fugida até ao S. João do Paraíso, eu e o meu irmão, o Chico e
o Cocas. Estalamos “Pirilampos”, deitamos “Bichas-de-rabear” mas tínhamos que fugir
depois... A suar da correria, apesar das orvalhadas que caíam, íamos beber água
à fonte de Salgueiros. O Chico nessa noite, perdeu o relógio “Cauny” que o pai
lhe deu quando fez a quarta classe, chorava e adivinhava uma trepa das boas, tinha
sido comprado a prestações à Ermelindinha. Resolvemos no dia seguinte, irmos
todos falar ao Sr. Juvininho para que desculpasse o Chico.
Quando
o Zeca da Amélinha gritou era manhã:
«Olha o Noticias! Traz o concurso das
quadras!»
Levantei-me
e acordei o meu irmão, deitei água do jarro na pia e lavei a cara, a água
estava fria. O Cocas e o Chico já andavam na rua. Nessa Quarta-feira dia de S.
João, fazia parte do programa das festas uma “Corrida de sacos” e “Partir os
cântaros”. Para a corrida de sacos, estávamos todos inscritos, tínhamos até
treinado, o Cocas opinava:
«Não estiquem o saco, deixem-no com folga
para dobrarem melhor os joelhos ao saltar».
Alguns
caíam, rebolando rua abaixo com os sacos já rotos, era uma pândega. O Zeca
inscreveu-se para partir os cântaros barro, era o mais alto da malta. Os
cântaros estavam pendurados por cordas e cheios de água, outros tinham farinha
e só um tinha dinheiro que se espalhava ao partir. Era necessário não perder a
noção do espaço e orientar o pau até tocar de leve, e depois desferir um golpe
certeiro. Claro que a grande dificuldade, é que os olhos estavam vendados.
Nessa
tarde de S. João, ainda houve uma corrida de arco e gancheta, que o Toninho da
peixeira ganhou porque corria muito. Parece que ainda o vejo de número nas
costas, a correr pela Lapa acima, dar a curva na Travessa de Salgueiros com o
arco a saltitar no empedrado, entrar na rua da Gloria a travar na descida com a
gancheta ao contrario, e cortar a meta junto ao tasco da Sãozinha, mesmo
enfrente à minha porta.
Como
era lindo o S. João da minha na rua... Estávamos em 1959 e eu só tinha 11 anos,
e não acreditava se me dissessem, que um dia trocariam o alho-porro por um
martelinho de plástico, que as Fontainhas iam quase acabar, juntamente com as
festas dos bairros e das ruas... As rusgas? Só em concursos na baixa se
voltariam a ver.
continua