continuação
Na
Lapa, as mulheres com bancas montadas nos passeios, a venderem manjerico com
quadras de S. João impressas em papel colorido e coladas em arames finos como
se fossem bandeirinhas, vendiam também o alho-porro e erva-cidreira. Não havia
ainda a praga dos martelinhos que por ironia, foi o Ventura dos plásticos da
rua do Paraíso que inventou para a queima das fitas e os que sobraram vendeu-os
no S. João, a partir daí, a moda pegou para desgosto dos mais tradicionalistas.
Mas isto já foi nos anos 80.
Também
acabaram os homens com padiolas, que vendiam chapéus feitos de papel de muitas
cores e feitios, bivaques com berloques, de aba larga ou pequeninos com flor
para as meninas. Vendiam também aquelas bolas de papel cheias de serrim com
elástico, que se prendia no dedo anelar e se jogava à cabeça das meninas. Vendiam-se
“bichinhas-de-rabiar”, os pirilampos e as rodelas de fogo preso, que se prendia
num prego para girar. Haviam ainda os balões feitos de papel, para largar com
mexa embebida em petróleo depois de bem abertos á custa de abanadores que
insuflavam ar. Estes eram os característicos balões de S. João, não havia rua
que não lançasse um balão, eram como estrelas luzidias que pairavam no ar,
mensagens de luz a iluminar aquela bela noite de Junho.
S.
João na rua estava quase a rebentar! Nos altifalantes ouvia-se o Conjunto António
Mafra:
Deite um manjerico na manhã
de S. João
Deite um manjerico e com
ele o coração
Agora acredito na tua
afeição
Deite um manjerico na manhã
de S. João
Junto
da cabine de som, o “Vermelho”, polícia da esquadra do Paraíso, verificava as
licenças:
«Direcção Geral dos
Espectáculos... Governo Civil... Muito bem, está tudo em ordem».
Era
vermelho por causa da “pinga” que lhe punha o nariz e as faces encarnadas, não
por opção política, nesse tempo até os barbeiros tinham um letreiro: ”É proibido discutir política”. Que o
diga o falecido Sr. Ernesto, (que trabalhava na “Calandra do Bonfim”) e que “Os
vampiros” levaram até à rua do Heroísmo, naquela noite em que algum “Bufa” o
denunciou e encontraram o “Avante” em cima do guarda-vestidos. Quando voltou
vinha magro e branco, tinha perdido aquele olhar vivo que tinha, para dar lugar
ao baço e triste. Ele que tinha andado no ano anterior na campanha do Humberto
Delgado, eu era miúdo, mas lembro-me da minha avó me dizer, a caminho da
padaria na rua de Sá Noronha:
«A
nossa politica é a tigela da sopa!».
Mas
o Sr. Ernesto lá estava à entrada da Praça Carlos Alberto gritando:
«Abaixo o fascismo!».
continua
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